blog [FRACTOSCÓPIO] Rosy Feros

25 de fevereiro de 2002

Diálogos sobre arte



"No Brasil, não há diálogo (...) Não há estímulo para a arte. Trabalhamos todos individualmente. Mal sabemos o que acontece em São Paulo e no Rio. É tudo muito provinciano."
[Frans Krajcberg, em Entrevista ao Caderno Mais!, Folha de SP, 10/fev/02]

Nos meios formais de divulgação artística, concordo com ele. É muito difícil saber, no Brasil, o que se está praticando em termos de arte em outras regiões, até mesmo na própria cidade... Quando não se faz parte das "panelinhas", ou dos pequenos feudos produtores/disseminadores de arte, é praticamente impossível furar certos bloqueios.

Mas o que ocorre na internet é outra história. O que é difícil ou praticamente impossível de acontecer "pelas vias normais" torna-se real pela rede: trocas de informações artísticas entre gente que nunca se viu, intensas experiências artísticas coletivas, até mesmo trabalhos de divulgação em conjunto, formando verdadeiras cooperativas de produção & divulgação da arte, em todas as suas variadas expressões. Bom demais de ver e participar!

Tempo não é dinheiro



"Tempo não é dinheiro, é oportunidade de exercitar a criação da beleza."
Ariano Suassuna

>>> Estou com Ariano, e não abro! :-)

22 de fevereiro de 2002

Ciberespaço Xamânico



Mais um projeto maravilhoso que visa tratar das amplas e múltiplas (embora muitas vezes ignoradas) dimensões de ciberespaço nosso de cada dia, seguindo a linha de Roy Ascott & cia. .

"O Espaço do Xamã" (ou "Shaman's Space"), site de Joseph Lefèvre, é um trabalho de net arte que ganhou o prêmio Möbius do Quebec Canada Multimedia 2000.

Através de símbolos místicos e correlações entre arte, magia, literatura, ursos siberianos e tambores de homens das cavernas, o site conduz o visitante por um caminho sacrado, a fim de iniciá-lo na experiência xamânica.

O Navegador, ou Kahuna Kilo Hoku; Collection of Stephen and Diane Heiman


Entre aqueles que acham que a rede é um espaço de devoção ou lugar de coisas bizarras, eu prefiro o caminho do meio: a trilha do xamã.

Ou, na linguagem dos antigos havaianos, o caminho do kahuna.

Redes de computadores para escolas públicas



Notícia do Intermanagers, de 18/fev:
Governo vai tentar liberar computadores para Internet nas escolas

"O ministro das Comunicações, Pimenta da Veiga, deve reunir-se esta semana com parlamentares da oposição com o objetivo de fechar um acordo para licitar a implantação de 290 mil computadores em 13 mil escolas públicas este ano.

O edital de licitação, lançado pela Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) no ano passado para a escolha das empresas prestadoras do serviço de Internet nas escolas, foi suspenso por decisões da Justiça Federal e do Tribunal de Contas da União. Segundo a decisão da justiça, o documento está sob suspeita de ferir a Lei Geral de Telecomunicações (LGT) e a Lei de Licitações, além das regras estarem sob suspeita de fortalecer monopólios e de favorecer a empresa Microsoft na escolha do software a ser utilizado pelos computadores."

Agora, eu pergunto: não seria mais viável implantar sistemas Linux (plataforma aberta e gratuita), ao invés de tecnologia proprietária? Não seria mais interessante tentarmos começar open-source, como na França?

Se eles conseguirem pôr em prática a idéia da Sociedade Brasileira de Informação que está no papel, será maravilhoso. Algo me diz que neste país as coisas referentes à educação telemática (acesso escolar a computadores + internet, cursos sistematizados on-line e criação de comunidades estudantis, unindo regiões geográficas distantes) correrão mais rápidas do que se supõe. O negócio (literalmente) é iniciar o processo, pois demanda latente já existe.

Inspiração do Dia



"Acordar a criatura humana dessa espécie de sonambulismo em que tantos se deixam arrastar. Mostrar-lhes a vida em profundidade. Sem pretensão filosófica ou de salvação - mas por uma contemplação poética afetuosa e participante."
[Cecília Meireles, poeta-educadora - by way of Carminha]
Carminha, tnx! :-)

>>> Leia textos de Cecília no Jornal de Poesia.
>>> Leia o poema de Cecília, "Ou isto ou aquilo", através do qual conheci a poesia quando ainda menina...

21 de fevereiro de 2002

O Big Brother do Apocalipse já chegou



Os membros da família Jacobs, uma típica família de classe média dos EUA, podem ser os primeiros seres humanos no mundo a implantarem o VeriChip: um biochip instalado no corpo que contém suas informações pessoais (personal ID), semelhante aos usados para identificar aves e animais.

O chip é pouquinha coisa maior que um grão de arroz, e vários jovens norte-americanos estão fazendo fila para implantá-lo "porque é legal". O biochip pode ser bastante útil para identificar vítimas de acidentes, doenças graves ou seqüestros, pessoas hospitalizadas ou incapacitadas por algum motivo. Mas alguns pastores norte-americanos já estão denunciando o invento como sendo "a marca da besta". Leia mais na revista Wired, em inglês.

A poética do bizarro



Alguns consideram a rede como um espaço de devoção, mas outros acham que ela é um espaço bizarro e até poético. Isto é o que acha a dupla de artistas Corby & Baily, que diz que o mundo conectado é "um ambiente com alto metabolismo, cujas fronteiras estão sendo continuamente remodeladas graças à influência do poder social e das forças comerciais."

Com base nisso, e acreditando que o ato de "folhear" páginas ou telas na rede é uma atividade comportamental, a dupla criou um trabalho chamado "Reconnoitre". Trata-se de um "browser de variedades" que não serve exatamente como um mecanismo de buscas convencional, mas como uma espécie de "anti-browser", caótico e bizarro, que busca transformar a experiência da navegação em rede numa aventura nova e surpreendentemente poética.

Conheça o projeto "Reconnoitre"

Um retrato da espiritualidade na internet



Você acha que a internet pode ser um espaço de devoção? No site Artport, do Whitney Museum of American Art, a obra chamada "Prototype #38" busca mostrar a ascenção e queda de uma espiritualidade invisível, apenas sentida e observável através do mundo conectado.

É difícil imaginar como a espiritualidade pode ser medida de alguma forma, mas o projeto tem por objetivo rastrear mecanismos de busca na internet atrás de termos considerados espirituais. Uma vez encontrados, esses termos são programados e, associados a imagens animadas e sons, funcionam como uma espécie de "retrato polaroid" da nossa espiritualidade on-line. Curioso? Saiba mais

14 de fevereiro de 2002

Um dedo de prosa



[Rosy Feros]

nossos textos digitais
são incrementos
de nossas falas
coloquiais


Complexa rede de relações



Nos anos 50, o antrópologo inglês Radcliffe Brown afirmou:

"Os seres humanos estão conectados por uma complexa rede de relações que tem uma existência real. Uma relação social particular entre duas pessoas só existe como parte de uma ampla rede, na qual estão implicadas muitas outras pessoas".

Certamente, se não revelássemos a data em que tal afirmação foi feita, pensaríamos que se trata de coisa atual. E, muito provavelmente, pensaríamos que ele estava falando da internet - esta nossa complexa rede de relações.

Qualquer semelhança é mera coincidência? :-)

11 de fevereiro de 2002

Ô Abre-Alas, que eu quero passar...



Em 1889, a compositora Chiquinha Gonzaga compôs a música "Ô abre-alas", considerada a primeira música de nosso Carnaval. Segundo alguns historiadores, a música foi criada a pedido de alguns componentes do cordão "Rosa de Ouro".

Chiquinha Gonzaga


Ouça a música Ô Abra-Alas (em MIDI), saiba a letra e sua origem, e conheça a vida desta fantástica personagem feminina da história da música brasileira, Chiquinha Gonzaga.

O Carnaval Pagão



Navegando pelo site da LIESA (Site Oficial da Liga Independente das Escolas de Samba do Rio de Janeiro), encontrei, além de várias informações sobre o Carnaval deste ano, um livro on-line narrando a história do Carnaval, assinado por Dr.Hiram Aráujo. Muito interessante.

No Capítulo II do livro, você pode ler algo sobre as bacantes/bacanais gregas e as saturnálias romanas - as origens latinas que desencadearam todo esse nosso universo musical e colorido do Carnaval brasileiro.

O Sol Brilha Eternamente Sobre o Mundo De Língua Portuguesa



Ainda há pouco, quem estava assistindo ao desfile das escolas de samba do Rio como eu pôde acompanhar o interessantíssimo tema da Unidos da Tijuca: "O sol brilha eternamente sobre o mundo da Língua Portuguesa". Lindo isto, não? :-)

Fantástico ver a amada Língua Portuguesa cantada em samba & verso deste jeito... Que bela surpresa! Também acredito que a língua é força e união, e esses eventos que cantam a lusofonia me deixam emocionada... Literalmente. ;-)

Conheça, na íntegra, o samba-enredo da escola, cujos autores são Haroldo Pereira e Valtinho e o puxador-intérprete é Wantuir:

"Portugal
Nas caravelas do idioma naveguei
Nessa aventura lusitana
Os cinco continentes alcancei
"bordei" palavras sobre as Ondas do mar ( Oi! do mar )
E na linha do horizonte
A língua se fez poesia uma odisséia de amor
"Navegar é preciso" de angola ao timor ( ô,ô,ô )
Cultura ! riqueza !
Iluminando o mundo de língua portuguesa

Trago à mesa a alegria e amor !
Que a família tijucana, chegou !
Com bom papo e harmonia e samba no pé !
A minha língua, é minha pátria, é minha fé !

Sopra o vento dos deuses
Pra língua "semear"
Na costa africana na voz dos orixás
"Temperei" com arte em goa
E mercados de macau
Fala brasil ! brasil ...
A "morenice" em um povo encontrei
Mundo novo me apaixonei hoje é só sedução
Salve a luta do timor !
Pela "liberdade expressão"

Rasgou no céu um cometa
Explode em sete cores
A nova era, oito esplendores
A língua é força, é união
A homenagem vem na cauda do pavão"


Conheça o site da escola de samba carioca Unidos da Tijuca, link fresquinho que acabei de conhecer.

9 de fevereiro de 2002

Passarela do Samba



Já começou o carnaval, mas confesso que não me sinto muito à vontade nessa época... Se pudesse, este ano eu iria para um mosteiro zen! ;-)

O Carnaval não tem muito a ver comigo, pessoalmente falando. Prefiro olhá-lo à distância. Sempre gostei de analisar os temas escolhidos pelas escolas de samba, a cada ano, e avaliar como essas idéias são transformadas em espetáculo apoteótico. Espetáculo ríquíssimo em forma e conteúdo, reconheça-se. Não deixa de ser impressionante observar como esta indústria do entretenimento, tipicamente brasileira, apresenta um nível de organização tão grande (que muitos julgam não existir).

Do ponto de vista artístico, as escolas de samba são uma gigantesca peça de teatro ao ar livre, por assim dizer, que lembram muito as bacantes e saturnálias greco-latinas. Têm atores, diretores, músicos, roteiro pré-determinado e uma infra-estrutura técnica de primeira linha.

Do ponto de vista da Comunicação, pode-se dizer que o Sambódromo e as demais avenidas do país, durante o desfile cronometrado e ultra-planejado das escolas de samba, transformam-se num verdadeiro teatro de operações a céu aberto, um verdadeiro e valioso veículo para a Promoção & Merchandising.

Os carnavalescos das escolas atuam, na prática, como gerentes de projeto culturais. Dar conta de tantos detalhes e de tanta gente realmente não deve ser fácil, exigindo da direção das escolas raras habilidades de coordenação. Além disso, os carnavalescos são grandes publishers de conteúdos estéticos e ideológicos, cujo sucesso depende, dentre outras coisas, da escolha do tema do ano e de como conseguem resolver musical e plasticamente o tema escolhido.

É impressionante lembrar também que as escolas de samba, ainda que dediquem praticamente um ano inteiro ao Carnaval, só transformam em realidade completa a idéia criativa do carnavalesco quando desfilam na avenida. Até então, ninguém sabe exatamente como serão as coisas e, apesar dos ensaios nas quadras das escolas, o Carnaval só acontece mesmo durante os desfiles públicos. Ou seja, o Carnaval (em se tratando do desfile formal das grandes escolas de samba, claro, e não do carnaval de rua) é planejado para existir enquanto performance.

O projeto cultural do carnavalesco sai do papel e do virtual no momento mágico em que a escola inteira mergulha na passarela do samba. Todos os conteúdos estéticos e ideológicos, veiculados pelos integrantes das escolas, são "publicados" no espaço de 85 minutos/escola para o público local e, simultaneamente, para todo o Brasil e exterior através de todo o aparato midiático (este ano, a Globo estará retransmitindo para 20 países).

Além do fato das avenidas serem um espaço para a Promoção & Merchandising, o Carnaval gera várias outras oportunidades mercadológicas, direta e indiretamente. E este processo não pára depois dos quatro dias: os festejos de Momo permanecem presentes nos vários canais da mídia (TVs, revistas, jornais, rádios, internet. etc.) e repercutem ainda por um bom tempo, sendo exaustivamente comentados e reprisados, gerando produtos secundários os mais diversos (publicações impressas especializadas, fitas de vídeo, etc.).

Alguém ainda tinha dúvidas de que o Carnaval brasileiro é uma verdadeira indústria, ou ainda não tinha entendido por que mobiliza o país por, no mínimo, um mês? :-)

Diante de tanta competência técnica, comercial e artística a serviço do Carnaval, o Brasil bem que poderia acordar para o fato de que a indústria do entretenimento é a nossa grande vocação nacional. E o carnaval bem que poderia ser eleito um dos grandes carros-chefe dessa indústria, de verdade, saindo do eixo Rio-São Paulo e estendendo-se de norte a sul do país. Já pensou cada região brasileira com seu carnaval, destacando suas peculiaridades culturais para todo o mundo?

Bom, falando tanto de serpentinas... eis aqui um poema que escrevi nos idos de 1993 (!), uma impressão bastante pessoal sobre o Carnaval.

Latina


[Rosy Feros, 1993]

É carnaval na avenida
mas em mim dorme uma sina
de sangrar em boleros
o samba que passeia na avenida


A cada morte que eu vivo
meus dons transmutam
e a dor já não me diz mais nada


Em mim dói uma dor
fatal e latina
e é com ela que eu vivo
Viver sem ela me alucina


6 de fevereiro de 2002

Feliz Aniversário, Papiro!



O Papiro Eletrônico cresceu. E está brilhando. Depois de 100 semanas, é gostoso olhar para trás e ver como marcamos o tempo neste nosso calendário literário iniciado em 2000. Um verdadeiro encontro poético coletivo movido a e-mails, que você pode acompanhar, ler e degustar no site de Blocos Online.

Quer saber o que é Papiro Eletrônico?
Veja Rosy Feros e Marc Fortuna festejando dois anos de Papiro e leia meu poema, Entre linhas poéticas, escrito em homenagem ao grupo.

Dúvida literal



Uma dúvida ainda me assalta: como se escreve ON LINE em ambiente textual lusófono? Antes eu escrevia separado (ON LINE); depois, observando textos contemporâneos e conversando com amigos brasileiros que moram nos EUA, passei a escrever ONLINE, tudo junto. Agora, eis que vejo alguns retomando (?) a grafia ON-LINE.

Bem que o pessoal podia estabelecer uma padronização gráfica, mínima que fosse, para evitar confusões, né...

Novidades literárias



Este ano começou bem, apesar de que eu ainda sinto os farelos e respingos de 2001 bem fortes. Apesar dos novos e bons ventos de 2002 (este belo ano palíndromo) estarem soprando, o ano passado ainda não terminou.

Tenho inclusive uma novidade: meu ensaio "Hábito de leitura e gosto por livros" foi publicado pelo site "LEITORES & LIVROS", com chamada na primeira página. Fiquei muito contente com esta publicação, pois o site é sério & competente. Quando é assim, dá gosto da gente indicar.

Para alguns, com este ensaio estou a mexer em vespeiros... mas acho que faz parte, para quem é da área de Comunicação, mexer em vespeiros. Os insetos entendem bem o que é comunicar!

Se mexo em vespeiros, não é pelo gosto puro e simples da polêmica, mas pelo fato de eu escrever apenas coisas que faço e em que acredito (não necessariamente nesta ordem). E eu acredito que muito do que dizem sobre os livros e hábitos de leitura entre os jovens é balela, desinformação ou simplesmente preconceito.

O que você acha disto tudo? Quero muito saber sua opinião.

Olá! :-)



Ah... té que enfim consegui escrever por aqui! :-) Agora estou contente, me sentindo em meu hábitat natural.

Confesso: estava difícil retornar. Ainda está. Mas retomar meu diário digital, interrompido desde dez/2001 e tão cronologicamente fragmentado, tem sido uma coisa da qual não consigo me desconectar.

Para mim, já faz parte da minha vida rotineira este tipo de colóquio eletrônico (seja on-line ou por e-mails), e ficar longe dele é realmente um martírio.

Mas quer saber? A vida imita a arte, e a vida eletrônica imita a vida biológica. Por mais que eu tente fazer diferente, este blog está muito parecido com os meus antigos diários de papel... dificilmente eu escrevia sempre, religiosamente, todo santo dia. Sempre fui rebelde diante de rituais rígidos. Mas uma coisa era certa: toda intervenção, acréscimo ou delírio textual era fato santo. ;-)