blog [FRACTOSCÓPIO] Rosy Feros

30 de setembro de 2001

Uma colcha digital de tributos humanos



Uma equipe de profissionais especialistas em computação e vídeo desenvolveu um projeto, no mínimo, curioso: uma "videocolcha", ou um tipo de colcha de retalhos digital, para que as pessoas possam manifestar seus sentimentos pela tragédia do último dia 11/set/01 nos EUA.

O projeto é obra dos experts em mídia streaming da pequena Red Zeppelin Digital e da Workshop 173.

Os tributos online são pequenas imagens em vídeo "costuradas" umas às outras no site, formando uma verdadeira colcha de retalhos representada por vários quadrados coloridos. Cada quadrado colorido da colcha representa um depoimento-tributo, indicando a diversidade das mensagens publicadas e de seus autores.

A "videocolcha", que serve como um manifesto de indignação e terror contra os atos de violência e terrorismo que assolam o mundo, usa a linguagem do vídeo para fazer uma crítica social à própria mídia. Trata-se de uma resposta videográfica a todas as imagens em vídeo que assistimos por todo o mundo sobre os atentados aos EUA, que tanto nos tele-assombraram como nos tele-comoveram.

FONTE: WIRED NEWS
Mais informações em: Projeto "Videocolcha"

25 de setembro de 2001

Modelo matemático consegue simular caos no cérebro



Você sabia que existe atividade elétrica caótica na região do córtex cerebral?

Um modelo matemático foi desenvolvido na Universidade de Tecnologia de Swinburne, Austrália, para demonstrar o fato. Várias tentativas haviam sido feitas usando eletroencefalogramas, mas estes não são capazes de identificar o caos. O trabalho foi divulgado este mês na revista Chaos, do Instituto Americano de Física.

Essa atividade caótica/randômica é muito importante, pois se trata de um mecanismo flexível e rápido, bastante complexo e imprevisível, para que o cérebro possa diferenciar sons, odores e outros estímulos. Além disto, dá pistas sobre o estado de ondas alfa, que é quando estamos acordados, mas de olhos fechados e em repouso.

A Teoria do Caos parece ter mais explicações para o mundo do que sonha a nossa vã filosofia iluminista! :-)

Imagem Fractal, by Melissa Binde

[Copyright © Melissa Binde]

Atentados põem tecnologias da informação na berlinda?



Este comentário foi publicado nesta semana por Phil Agre, um dos mais respeitados especialistas norte-americanos em tecnologias de informação e comunicação (TICs), da Universidade da California em Los Angeles:

"Há um mito, tipo revista 'Wired', de que o mundo em rede torna a todos modernos, todos são expostos a um espectro de idéias tão amplo que ninguém seria vítima de prisões mentais. E se essa hipótese estiver errada? A internet cria pouca coisa nova, em geral ela amplifica coisas que acontecem."

[FONTE: JC-Email]

Retrato em Patchwork



[Rosy Feros, 24/set/01]

Coleciono pedaços e cacos,
fragmento auto-retratos
e re-engenho células.
Da metamorfose é meu extrato.


Passo a passo, rito a rito,
desenho mosaicos e alimento dígitos.
Meus tijolos de pensar
são jogo de armar infinito.


Gota no oceano e pó de estrela,
no mar de deus eu sou pixel.


Retrato em Patchwork


No mar de dados, sou ponto:
matriz do novo, arquétipo do início.


13º VIDEOBRASIL Festival Internacional de Arte Eletrônica



No dia 23/set/01, em São Paulo, o Júri da Mostra Competitiva do 13º Festival Internacional de Arte Eletrônica Videobrasil, integrado por Priamo Lozada (curador do Laboratorio Arte Alameda, México), Jose-Carlos Mariategui (presidente do Alta Tecnologia Andina, Peru) e Gilbertto Prado (artista multimídia e professor na USP, Brasil), decidiu fazer 6 premiações e 6 menções honrosas, selecionando 12 trabalhos de um total de 135 trabalhos inscritos.

Os critérios para a seleção dos ganhadores foram: originalidade, uso inovador do meio, proposta conceitual e diversidade cultural.

Na mostra competitiva de Novas Mídias, aberta a artistas de todo o mundo, a seleção gerou ampla discussão sobre o papel das novas tecnologias midiáticas na prática artística.

Dentre os premiados na Mostra de Novas Mídias, está meu amigo EDGAR FRANCO, cujo trabalho em webart "NeoMaso Prometeu" recebeu Menção Honrosa. :-)

Sabendo que só houve 2 premiados brasileiros, sendo um deles meu amigo Edgar, fico muito contente! :-)

Confira o trabalho de Edgar Franco:
>>> Site Ritual Art: entrevista, quadrinhos, poemas [inclusive um poema interativo em Vrml]

24 de setembro de 2001

Pense positivo!



Você conhece a página "Movimento o Brasil é mais"?

É o site do movimento criado para incentivar o clima de otimismo e o pensamento positivo, transmitindo alegria, confiança e alto-astral.

Xô, desânimo! Pense positivo! :-)

Pensamento do Dia



"Não podemos aceitar NENHUMA FORMA de violência, pois ela é como um câncer: começa com uma
célulazinha apenas, mas se não a suprimirmos, esta se multiplica, se espalha por todo nosso
"corpo-mundo", se metastaseia, indo a lugares distantes do foco original, e, aos poucos, consome o
"paciente-Humanidade"...e este sucumbe, morre, por algo que começou pequenininho, mas que não
soubemos, ou ignoramos, seu potencial maligno..."

[Paulo Maurício Piá, 23/set/2001, lista PHILOS]

>>> Veja o seu Projeto para Erradicação da Miséria Absoluta no Brasil

22 de setembro de 2001

Cá Estamos Nós, criando o ciberespaço da lusofonia



Este é um artigo que fiz sobre um dos maiores comunicadores em língua portuguesa na internet da atualidade, na minha opinião - o português Carlos Leite Ribeiro.

Carlos é o idealizador, mentor e diretor do complexo cultural "Cá Estamos Nós", uma das maiores pontes literárias e de amizade entre Portugal e o Brasil que eu conheço que se desenvolve pelas vias telemáticas. Seu trabalho já rendeu vários frutos concretos e bastante palpáveis para vários de seus assinantes e colaboradores, e não deve passar em branco para aqueles que querem saber tudo o que rola na internet.

21 de setembro de 2001

Pensamento do Dia



"...aquele que conhece o inimigo e a si mesmo, lutará cem batalhas sem perigo de derrota;
para aquele que não conhece o inimigo, mas conhece a si mesmo, as chances para a vitória ou para a derrota serão iguais;
aquele que não conhece nem o inimigo e nem a si próprio, será derrotado em todas as batalhas..."

[Sun Tzu, in "A Arte da Guerra"]

>>> thanx, Gabriel! :-)

Lya Luft



Última canção
[Lya Luft]

Deus,
eu faço parte do teu gado
esse que confinas em sonho e paixão
e às vezes em terrível liberdade.
Sou, como todos, marcada neste flanco
pelo susto da beleza, pelo terror da perda
e pela funda chaga dessa arte
em que pretendo segurar o mundo.


No fundo,
Deus,
eu faço parte da manada
que corre para o impossível,
vasto povo desencontrado
a quem tanges, ignoras
ou contornas
com teu olhar absorto.


Deus,
eu faço parte do teu gado
estranhamente humano,
marcado para correr amar morrer
querendo colo, explicação, perdão
e permanência.


[FONTE: Diário Poético PURA POESIA, 15/set/01, editado por Eliane Malpighi]

Lya Luft

[Lya Luft]



>> Leia poemas do espetacular livro-declaração de amor "O Lado Fatal"
>> Leia uma entrevista bastante interessante com Lya
>> Conheça a biografia de Lya, no Projeto Releituras.

20 de setembro de 2001

Babel Pós-Histórica



Nesta nossa Babel pós-histórica,
continuamos cruzando com vontade quaisquer fronteiras.


Nesta ampla malha de informações de alcance mundial,
queremos encontrar o outro que se parece mais próximo a nós.
Somos estrangeiros em nossa própria pátria.


O conceito de nação também mudou.
Hoje, o sentimento de nação só se constitui virtualmente,
através dos laços invisíveis mas poderosos
dos entrecruzamentos de dados.


Ocas virtuais, comunidades, cidades.
De civitate Dei.

The Building of the Tower of Babel

[The Building of the Tower of Babel, Hendrick Van Cleve]



As Torres



Recebi hoje da lista de divulgação do Portal "Cá Estamos Nós" este texto da Sarita Barros, que achei incrível. Vale a pena a leitura.

AS TORRES
(Sarita Barros)

Quando o homem quis desafiar a Deus construiu a torre de Babel.
Quando os padres quiseram falar com Deus armaram uma torre no templo e nela puseram um sino para se comunicarem com o povo. Quando o castelão quis defender seu castelo, dos assaltos de surpresa, levantou uma torre. Quanto mais alta a torre, mais inexpugnável. Do alto da torre o castelão domina o mundo. Do alto da torre observa seus inimigos. Castelo sem torre é área indefesa a mercê dos predadores. Elas (as torres) por importantes fazem parte do jogo de xadrez – o jogo dos Reis – o Jogo do Poder. Nesse jogo temos o rei (poder político) e sua dama (eminência parda – o poder por trás do trono), os bispos (poder da igreja), os cavalos (poder militar), os peões (o povo – que não sabe que é poder) e as torres (a estratégia – o poder simbólico). Esse jogo até hoje, praticamente, não mudou. Em nosso mundo existe poder político, eminência parda, povo, ministros religiosos e seculares, forças armadas e o poder simbólico – que muda através da história. Atualmente é (ou era) o mercado, os negócios, a economia. No xadrez quem perde suas torres, dificilmente ganha o jogo. As torres do mundo financeiro caíram. O castelo ficou sem torre. O reino está ameaçado. Mais cedo ou mais tarde perderá seus outros poderes. Qual reino ascenderá? Qual torre terá esse novo reino? Esperamos seja a torre da solidariedade/amor e em seus cimos tremule a bandeira da paz e que seu rei governe para o ser humano.

Mark Twain



Encontrei esta frase do Mark Twain, lembrei do Projeto Alpha Wolf e, como não poderia deixar de ser, da operação militar organizada por G. W. Bush, "Justiça Infinita".

"Recolha um cão na rua, dê-lhe de comer e ele não lhe morderá: eis a diferença fundamental entre o cão e o homem".

Mark Twain

[Mark Twain]


19 de setembro de 2001

Marcas autorais na rede de relações



Achei interessante a idéia do "coletivo de individualidades", do Hernani Dimantas. Ele diz que na rede podemos desenvolver projetos pessoais através da união das várias individualidades, e eu também acredito nisto.

Esta nossa enorme Rede de Relações facilita a propagação da idéia autoral, junto com todos os prós e contras que possam resultar desta propagação. E, como Hernani, também penso que os blogs são um ambiente ótimo para isto. Aliás, os blogs são o celeiro das idéias autorais hoje.

Para mais informações sobre as possíveis repercussões de nossa rede de relações, leia o coletivo de individualidades.

Realidade Virtual



Poema Contextualizado
[Paulo Leminski]


podem ficar com a realidade
esse baixo astral
em que tudo entra pelo cano


eu quero viver de verdade:
eu fico com o cinema americano


Carnívoros ou Autofágicos?



Em tempos de guerra quente, fica difícil assimilar que democracia e liberdade possam conviver com patrulha ideológica e censura.

A carnificina ideológica, promovida pelos EUA depois da queda das torres (fálicas, como já disseram alguns), com a instalação do sistema de monitoração do FBI "Carnivore", é carnívora ou autofágica?

A autofagia, ou autocanibalismo, não seria suicida?

E, assim, qual a exata diferença entre a patrulha ideológica autofágica dos EUA e o fanatismo kamikasi mulçumano?

Estas idéias me vêem à mente lendo estas matérias:
>> FBI rastreará e-mails em busca de terroristas
>> Privacidade online: nova vítima do terrorismo?

16 de setembro de 2001

Utopias



[Rosy Feros, 10/abril/1999]

Não temos tempo mais para utopias.
Não temos mais espaço para antigas concepções do mundo.
Aqui, neste labirinto, você poderá encontrar o que procura.
Ou não. Depende de suas escolhas.
É o sonho na velocidade do pensamento.


Vivemos o limiar da história com emoções extremas:
o futuro é cheio de fantasmas, o passado morreu.
Em nosso espaço-tempo, cultivamos flores e fantasmas.
Estamos sempre em franco movimento.
E a condição do futuro é movimentar o presente.


Acreditamos que as novas tecnologias irão nos salvar de nós mesmos...
Ilusão imaginar que nossa salvação está fora de nós mesmos.
Mas pode estar ao alcance de um botão. Ou de uma janela.


Do que você quer se salvar?
Do fogo, ou do dragão?


15 de setembro de 2001

Dançando com lobos



Algo de que as pessoas estão menos conscientes no seu dia-a-dia é o efeito que suas pequenas ações podem causar em outras pessoas.

Embora considere isto uma grande verdade, não falo sozinha: pesquisadores do MIT (Massachusetts Institute of Technology, in Boston/US) basearam-se neste fato para desenvolver um ambiente multimídia virtual de inteligência artificial chamado Alpha Wolf Project, no qual as pessoas podem interagir com lobos e aprender a viver como um deles. É isto mesmo. Os pesquisadores dizem que, com essa "interação" com lobos, talvez fique mais fácil compreender como as pessoas se comportam socialmente.


Equipe do Alpha Wolf Project

[A equipe do Alpha Wolf Project, do MIT, brincando com lobos virtuais]


Com a possibilidade de se tornar um filhote lobo e participar de uma verdadeira matilha, o usuário do Alpha Wolf Project aprende que suas atitudes tanto influenciam quanto dependem do comportamento dos outros lobos, desenvolvendo assim habilidades sociais. Inclusive habilidades de comunicação e negociação.

O mais interessante de tudo é a gente precisar aprender a lidar com lobos, animais conhecidos por suas habilidades societárias, para reaprender a ser humano. Parece aquela história de ter que dar alguns passos atrás (no caso, alguns milhões de anos de vivência em bandos e socialização) para poder seguir em frente.

Afinal... não somos todos mamíferos? ;-)

Nostradamus, New York, profecias e boatos



É interessante ver que, enquanto astrólogos renomados e outros especialistas em esoterismo desmentem que Nostradamus tenha escrito/dito os versos "célebres" que rodaram a internet de ponta a ponta, alertando para o ataque a NY, há notícias de que a Amazon está vendendo como nunca livros sobre Nostradamus e suas profecias... juntamente, é claro, de livros e souvenirs do World Trade Center e sobre terrorismo.

São as ambigüidades deste mundo pseudo-pragmático... :-)

13 de setembro de 2001

Anarco-íris



[Lau Siqueira]


nossos olhos
retidos em nova iorque


o medo
cria espasmos
e abre crateras no futuro


caminhemos juntos
então
por entre os entulhos
e seremos o amanhecer
que brotará do escuro


É a poesia de Lau Siqueira transbordando verdades que nos enchem a cara de razão...

Bandeira dos EUA nos escombros do WTC

[Bandeira dos EUA presa à antena que havia em cima do WTC - Fonte: USAToday]


Ouro de Tolo



"Faltou aos americanos a percepção de que se estabeleceu uma corrente antiamericana relativamente unida em todos os paises islâmicos. Prefere-se, é mais cômodo e mediático, eleger inimigos como (o milionário saudita) Bin Laden. Questões fundamentais em termos de geopolitica, como o financiamento de movimentos terroristas por pessoas conhecidas na Arábia Saudita, são jogadas para debaixo do tapete."

Quem disse isto foi Jean-Christophe Muffin, pesquisador de assuntos de geopolítica da Escola de Ciências Politicas de Paris (O Globo, 13/9/2001).

Hoje não podemos mais falar de políticas unilaterais nem de países que, solitários, reinem em força e poder.

O que já ensaiava seus primeiros passos mágica e midiaticamente transformou-se em realidade táctil depois dos ataques do último 11/set: o mundo hoje é uma vasta coleção de ideologias, com alguns denominadores comuns. Só podemos agora falar de blocos, não mais de países. As fronteiras geográficas viraram pó - não há mais "cercas embandeiradas que separam quintais", como um dia cantou Raul Seixas.

A geopolítica não se baseia mais em fronteiras nem territórios físicos, mas em ciberespaços político-ideológicos. Bandeiras fincadas na terra para delimitar espaços de poder transformaram-se em ouro de tolo, não têm mais valia.

É a força da coletividade reinando sobre o império do individualismo. A força e o poder, hoje, só fazem sentido se compartilhados.


A Torre

["A Torre", "Casa de Deus" ou "Torre de Babel" - arcano XVI do Tarô.
© Ilustração: Christiane Messias]


Lembranças para a próxima geração



"Foi o momento mais trágico da vida que uma pessoa da minha geração, nesse nosso mundo louco, ocidental e globalizado que ninguém ainda conseguiu entender direito."

Estas palavras, ditas pelo diretor teatral Gerald Thomas após visitar e sentar sobre as ruínas do WTC, me fizeram lembrar um velhinho paulistano que vi pela TV, no dia 11/set, chorando copiosamente depois das notícias da destruição. As palavras e o semblante daquele velhinho ficaram inesquecíveis pra mim: "Essa juventude, na flor da idade... ver uma coisa destas é muito triste..." Eu não resisti em chorar junto - em parte, admirada pela visão e compaixão dele com relação à geração posterior, e em parte profundamente comovida com sua expressão de tristeza.

O novo milênio começou firme e forte - e espero que sejamos todos firmes e fortes para experimentá-lo e vivê-lo.

Souvenirs



É impressionante e estarrecedor saber que há gente tentando vender na internet "souvenirs" do extinto World Trade Center. E no famoso site de leilões e-Bay!! (Parece que os administradores do site já bloquearam as ofertas - não averiguei.)

Que espírito mercantilista é este, que brinca com chagas? Isto até parece mais cruel que vender pedaços da cruz de Cristo...

Outra grande ironia



"Os EUA estão se convertendo em incitador da proliferação de armas de destruição em massa. (...) os militares [norte-americanos] têm um programa de armas bacteriológicas de grande alcance que não apenas beira a ilegalidade, pois o tratado contra a guerra biológica de 72 proíbe a produção de bactérias do tipo contemplado, mas também que deslegitima os esforços de Washington para evitar que países como o Iraque de Sadam Hussein se equipem de armas químicas ou biológicas."

Saiu no Editorial do "El Pais", de Madri, em 06/setembro/2001. E pensar que não se precisou de arma química para derrubar os ícones de um império...

Ironias



No artigo "Uma esperanca para a humanidade", de Oded Grajew, há momentos interessantes que merecem ser destacados, já que estamos ainda vivendo sob a nuvem de fumaça dos últimos fatos que abalaram as duas pilastras do mundo ocidental:

"A globalização, calcada na competição, nos interesses comerciais e financeiros, na lógica do mercado e do consumismo, em vez de se basear na cooperação e na solidariedade, está levando a humanidade a um grande desastre. (...) Os Estados nacionais mais poderosos do mundo, as organizações internacionais como o Banco Mundial, FMI e OMC, as instituições como o G8 serão capazes de liderar as profundas mudanças que o quadro atual exige? Receio que não. Além de serem responsáveis pelo estado de degradação e risco a que chegamos, estão contaminados pelos valores e pela lógica que ameaçam o planeta."

Mais à frente, o autor diz:

"Apenas o surgimento de uma nova cultura, que promova uma globalização calcada nos valores e direitos humanos, na justiça social, no respeito ao meio ambiente e à diversidade, poderá evitar o grande colapso."

É uma ironia ler estas linhas depois de tudo o que aconteceu. Estou, aliás, vivendo a compulsão de olhar para trás e tentar enxergar possíveis rastros na areia que desencadearam tudo... lendo notícias frias que parecem ainda quentes. Penso que os eventos que marcaram com sangue o calendário mundial em 11/set/01, divisores de águas históricas que foram, representam um sinal tanto para que a lógica predominante mude quanto um sinal de que a mudança já começou.

Os ventos já estão soprando para outra direção. É assistir, seguir e ver.

12 de setembro de 2001

AS TORRES CAÍRAM!



Estátua da Liberdade, EUA

[USAToday, 11/set/01]


É incrível presenciar, ao vivo e a cores, através das telas e monitores do mundo inteiro, tudo isto que está acontecendo. Os ataques terroristas a alguns dos principais ícones do mundo ocidental-capitalista estremeceram todo o mundo.

Muito mais que uma hecatombe natural, um tsunami. A onda que abalou Nova York hoje resvalou em todos os que, direta e indiretamente, participam do cenário sócio-econômico-político ocidental.

Aldeia Global Solidária



A aldeia global está interligada pela força de risos e lágrimas, provenientes de vários cantos do mundo, de uma forma nunca vista antes. "Nunca vista" é a expressão mais adequada, literal. Como disseram cidadãos norte-americanos aos pés do World Trade Center sendo destruído, parecem "scenes from a bad movie".

A mídia ressalta a todo momento o fato de que, em todos os continentes, os chefes-de-estado demonstram sua indignação pelos vários ataques terroristas a NY/EUA. E isto é também o que sinto.

A rede dos laços invisíveis



A internet, mais que telefones fixos ou celulares, é que está conseguindo manter a comunicação entre os milhões de desesperados que querem se comunicar. A sobrecarga nos backbones não poderia ser diferente.

Segundo matéria do USAToday, oficiais dos EUA estão dizendo que Bin Laden utilizou os recursos da internet para disseminar mensagens encriptadas sobre estratégias e alvos terroristas em chats de esportes e sites pornôs.

Nas listas de discussão, a grande preocupação é saber dos amigos que moram em NY e redondezas: saber como estão, se estão bem, como estão parentes e familiares. Enfim, saber como está sua vida, debaixo de tanta poeira. E participar misticamente da solidariedade coletiva que se formou para conhecidos e desconhecidos, para todos os seres humanos sobreviventes ou não deste imenso flagelo de proporções planetárias.

Parodiando Arnaldo Jabor, Esta violenta tragédia mudará a história dos século 21.

Na minha opinião, o texto do Jabor de hoje, no Jornal da Globo, está impecável. De fato, o mundo não é mais o mesmo depois de hoje.

11 de setembro de 2001.



A crença de que o poder dos EUA era inabalável demonstrou ser uma crença em ídolo de pés de barro.

Nada é para sempre, a força não permanece eternamente, mas nem todos querem acreditar nisto.

É nessas horas que as tragédias vêm mostrar o que há de mais assustador em nós.

3 de setembro de 2001

Utopia que é realidade compartilhada



Será que podemos considerar como equivalentes a Geração Beat e a Geração Web?

De acordo com o escritor norte-americano Michael Lewis, autor do livro "Next: The Future Just Happened", sim: a Web é a própria contracultura, e o rock estaria para os beatniks assim como a Web para os internautas.

Também acho que a contracultura da Geração Beat, com seus escritores "malditos" embalados pelas drogas e pelo rock'n'roll, assemelha-se em muitos aspectos à cibercultura dos jovens de hoje. É interessante estabelecer uma relação entre os poetas da contracultura e os escribas telemáticos da atualidade, gente que incansavelmente escreve suas impressões e visões de mundo pelas linhas de chat, e-mails e webpages.

Todo o rock da contracultura está impregnado da poesia beatnik, assim como a linguagem de hoje, não importa a mídia, está cada vez mais com a cara e o jeito de falar da web.

Eu não diria, entretanto, que a cultura do ciberespaço seja exatamente uma contracultura. Acho que tem mais a ver com uma nova cultura. A Geração Bit está ajudando a criar um ciberespaço que tem mais a ver com a Shangri-lá de James Hilton e com a "Utopia" de Thomas Morus.

Sendo o ciberespaço telemático um espaço que não tem lugar no mundo físico, e um espaço dito virtual que prescinde das relações cronológicas tradicionais, tendo sido inclusive criado um tempo só dele (internet time), então ele é utópico por excelência (do grego, u = não, topos = lugar). Utópico e ucrônico.

O que diria São Thomas Morus, canonizado pela Igreja Católica, se experimentasse a internet de hoje? A Utopia de Morus foi considerada impossível, mas o fato é que o ciberespaço telemático é tão factível quanto possível. O ciberespaço virtual é uma quimera real.

Utopistas ou internautas, nós seguimos tecendo um mundo a partir de nossa imaginação e vontade.

E desbravamos esta Terra Prometida
(Atlântida re-encontrada, República neo-platônica,
Admirável Mundo Novo, Shangri-lá,
Cidade do Sol, Cidade de Deus)
e a carregamos às costas
- ou em palmtops e outros dispositivos de banda larga -
assim como Atlas.


Atlas Farnese