blog [FRACTOSCÓPIO] Rosy Feros

29 de novembro de 2001

Ludoinformação e as tramas políticas da rede digital



Li no blog da Cora Rónai um post que muito me interessou, a começar do título "Tecendo a rede". Fala sobre o entrelaçamento de vozes e opiniões na rede, com referências a frases de Hernani Dimantas, do blog Marketing Hacker. Muita coisa boa tem se dito sobre as implicações anarco-políticas da rede, embora alguns (muitos?) ainda não queiram concordar que a participação individual ativa nas redes telemáticas coletivas gera profundas repercussões políticas, tanto em micro quanto em macro-ambientes sociais.

Destaco estas palavras do Hernani:
"Os blogs estão reverberando a nossa voz. É a renascença da publicação autoral. Isso está acontecendo em todo o mundo. O blog é uma puta ferramenta para conversar na rede. E acredito que deveríamos estar todos comemorando a nossa capacidade de criar tanta diversidade. Estamos fazendo Internet falada em português, com muita dificuldade, sem remuneração, mas com qualidade e originalidade. E distante dos moldes tradicionais."

Aproveitando a discussão interessante que se formou entre os blogs de Hernani, Cora, Bicarato, Mario AV e já perdi as contas de quantos mais (ilude-se quem pensa que pode pensar a internet apenas de forma quantitativa), digo que acho esse papo de nova renascença cultural bastante sério, com grandes, graves e agudas implicações. A começar do permanente aprendizado compulsório a que estamos submetidos, diante de tanta informação e de tantas fontes informativas diferentes.

Tamanha diversidade implica em responsabilidade na mesma medida, para poder haver equilíbrio nessa corda bamba. Mas, em compensação, junto com todo esse conhecimento surge algo incomensurável, impensável até poucas décadas atrás: o prazer de aprender brincando, ou de somar informação a entretenimento. O bendito, surrado e mal-compreendido conceito de INFOTAINMENT [INFOrmation + EnterTAINMENT], que tem como desdobramento natural o EDUTAINMENT [EDUcation + enterTAINMENT]. Ou, em termos lusófonos, Ludoinformação e Ludoeducação.

Como somarmos, ou combinarmos (que é diferente), responsabilidade com diversão? São estes conceitos "misturáveis" entre si? Responsabilidade está fadada a ser eternamente algo enfadonho e sério, e diversão algo para quem não está a fim de seriedade? Até quando precisaremos encarar a educação como algo ranzinza, sério, no mal sentido?

Só quanto a isto, já temos um mundo inteiro para discutir. E milhões dizendo que a informação nada vale se vier acompanhada de prazer... ou entretenimento, ou diversão - não importa o sinônimo, o conceito de Ludoinformação permanece.

Lembrando que todos somos regidos psicológica e socialmente pelo Princípio do Prazer; lembrando que já foi comprovado cientificamente que nosso cérebro não separa razão de emoção, e que nossas decisões todas são motivadas pela emoção, ainda que imbuídas da mais forte e sólida argumentação lógica e racional, não deveria haver surpresas nem espanto diante da possibilidade da mixagem (para usar outro conceito moderno) entre informação e diversão. Até as crianças sabem que a gente aprende é brincando.

Não bastassem estas evidências científicas, e esse negócio de Ludoinformação que para muitos é ainda como misturar água e azeite, estamos todos, aqui na rede, a brincar com fogo. ("Literalmente", diria Prometeu...) Pois tecer os fios da rede conscientemente, cruzando opiniões diversas em busca de novos caminhos; fazer da busca por informações um alimento de sobrevivência, como a água e o oxigênio; construir comunidades virtuais-reais a partir de princípios de solidariedade e ideologias comuns; blogar com vontade e participação ativa é, não só pura magia, como fazer política. E fazer política à sombra do esquisito conceito de Ludoinformação - o que é mais divertido.

Portanto, fica difícil falar do anarquismo na rede e da postura política dos blogs sem se ser redundante, sem chover no molhado.
É o uso do princípio divino do verbo, que foi criado livre para justamente voar. Só não acredita quem não participa, só não vê quem não tecla.

Não se faz política anônima: se alguém sabe e gosta, e passa adiante, e muitos ficam sabendo, isto, além de ser uma propaganda proselitiva da boa, é atividade política da mais genuína. O sucesso dos blogs (ou bitácoras, como são chamados em espanhol - como bem disseminou o Mario AV), chats e listas de discussão comprova este conceito básico de Comunicação Social - do homem que apresenta talentos natos tanto para a propaganda quanto para a política.

Links relacionados:
>>> Leia entrevista com a jornalista Lillian Witte Fibe e saiba o que ela pensa sobre Infotainment
>>> Leia o trabalho "O consumo de informação. Interesse e curiosidade", de António Fidalgo, sobre o processo da curiosidade informativa e sua relação com a diversão

Você sabia que hoje é o Dia do Café?



São inúmeras as lendas sobre o aparecimento do costume de beber café. A mais conhecida e mais plausível delas é a que nos conta que em meados do século XV, um pastor da Etiópia, chamado Kaldi, notando que as cabras ao ingerirem os frutos de certo arbusto se tornavam mais vivas e adquiriram mais disposição, resolveu fazer uma infusão com os tais frutos e experimenta-la. Achando que seu estado de espírito e sua disposição física melhorara, continuou a beber a infusão e passou a propagá-la. Daí em diante, foi-se difundindo o uso de beber a infusão preparada com frutos do cafeeiro.


Bolsa do Café, Santos

[Bolsa do Café, Santos-SP]


Se você é amante inveterado de café como eu, e compreende a íntima relação entre computadores & café, leia mais sobre a origem lendária desta bebida saborosa no Portal do Café.

Se quiser conhecer os segredos de um bom café e receitas deliciosas, conheça o Museu dos Cafés do Brasil, em Santos.

23 de novembro de 2001

O computador feito de DNA



Um computador feito de biomoléculas, inspirado na natureza. Tão poderoso quanto microscópico, construído com moléculas de DNA e um trilhão dele cabem em um único tubo de ensaio. Capaz de executar um bilhão de operações por segundo, com 99,8% de precisão.

Este é o novo computador criado por cientistas israelenses, o único em que tanto hardware quanto software são feitos de organismos vivos. Input e output orgânicos.

Depois desta experiência, e lembrando de outras experiências com computadores que simulam nossa rede neural, podemos ainda considerar os computadores "máquinas frias" e "sem alma"? E mais: podemos chamar estas máquinas biológicas, ainda, de "computadores"? Este conceito parece ter ficado estreito demais.

Enquanto organismos vivos, baseados no DNA, essas máquinas já possuem em essência uma forte equivalência conosco. Já não são mais mero arremedo do pensamento matemático humano, simulando os raciocínios de nosso hemisfério cerebral esquerdo. Estamos próximos de criar a máquina que pensa, cria e age conforme a caoticidade do comportamento humano?



Coincidentemente, hoje recebo a seguinte frase do teólogo Leonardo Boff, que vale como pensamento do dia:

"A natureza é sábia. Quando o caos se instala, simultaneamente emergem forças que transformam a desordem em nova ordem. Efetivamente, por todas as partes está surgindo uma nova benevolência com tudo que vive, e iniciativas regeneradoras estão sendo estimuladas. Elas, pela veneração e pelo cuidado, vão salvar vidas e garantir um futuro para a Terra."
[Leonardo Boff, em entrevista para Revista Bons Fluídos, n° 23]

Leia mais sobre o computador biológico feito de DNA na coluna Parabólica, do C@t.

22 de novembro de 2001

Emulando-me e recriando-me



Eu reproduzo, represento, finjo, crio a minha melhor cópia.
Minha cópia não sou eu?
Simulo minha realidade em mil simulacros de mim mesmo.
Reconheço-me no espelho, da mesma forma que toco minha pele ou ouço minha voz.
Minha reprodução fiel não é eu, à minha imagem e semelhança?

...
Meu modelo de perfeição é repetir-me inteiro, e aos estilhaços, a cada nova manhã.
Reproduzo-me todos os dias, ovulando-me e recriando-me,
fingindo que sou o mesmo, sem mais o ser.
Minha perfeição não existe.

...
Minha efígie é minha imagem, divindade à qual me rendo e em que me descubro.
Minha imagem, simulacro de mim mesmo, fala de mim mais que me sei.
Meu simulacro não é redundância, mas redonda ganância de ser.
Não é fingimento nem disfarce. É meu enlace comigo:
compreendo-me através de minha imagem-metade.

...
Emular é pôr-se de igual para igual, buscar cooperação pela igualdade. Emular é rivalizar, é competir.
Emparelhar-se com alguém é competir? Pôr-se de igual para igual é rivalizar?
Meu rosto real rivaliza com minha imagem no espelho?
Minha imagem é uma emulação ou simulação de mim?
Emulo-me: quanto mais me vejo, mais quero me ver.
Narciso acha feio o que lhe é estranho.
Simulo-me: quanto mais me reproduzo, mais eu tento ser.
Na natureza, nada se cria: tudo se emula, simula, estimula.

...
A realidade virtual é simulação ou emulação?
Simulamos ser o que não somos no espaço virtual
- ou o que fazemos são simulacros do real?
Ao me conectar, emulo ou simulo um outro que não sou eu?
Sou eu uma emulação de mim mesmo? Meus papéis sociais não são simulações vividas por mim?
Se simular é re-criar, sou seqüência infinita de simulações de mim.

...
Minha norma é arremedar-me, imitar-me até me sentir.
Ao me imitar, recrio-me.
Normalidade é repetir-se.

...
Eu reproduzo, tu copias, ele simula. Nós emulamos, eles imitam.
Meu estímulo é te emular para ser como eu mesmo.
Somos todos emanações de um só mesmo desejo:
nosso desafio maior é sermos fiéis ao nosso próprio espelho.

Rosy Feros [escrito em 22/novembro/2001, 00h22m a.m]

Arte para ser experimentada em movimento



Como lidar com formas de arte concebidas para serem experimentadas e percebidas enquanto se faz outras coisas?
Antes se dizia que a arte não é uma imitação do real, mas uma recriação dele.
Hoje, a arte re-cria o real por imitação, emulação, simulação.

WOP ARTE: o que você vê é o que você tem, ou o que você tem é o que você vê?