blog [FRACTOSCÓPIO] Rosy Feros

14 de julho de 2003

A tão decantada divulgação científica



Um interessante artigo escrito por Mônica Macedo-Rouet, "Divulgação científica na Internet: mais e melhores fontes?", publicado na revista ComCiência mostra como está o quadro atual da divulgação científica na rede, comentando que há mais quantidade do que qualidade e lançando questões importantes a respeito de quem produz e quem divulga informação.

Toca na ferida do tão decantado "jornalismo científico", que muitas vezes apenas reproduz notícias recebidas diretamente de grandes fontes, como os famosos periódicos Nature ou Science. Como mais de uma vez foi comentado neste blog, também penso que o exercício jornalístico não deveria ser apenas o de reproduzir matérias pré-existentes, coletadas de fontes consideradas "fidedignas". Afinal, penso que a proposta da comunicação jornalística é de agregar valor à informação, a fim de realmente fazer a diferença neste imenso oceano de dados em que vivemos mergulhados.

Informação por informação, tanto faz a fonte. Qualquer um, hoje, tem acesso a tantas fontes de notícias que o que importa é extrair valor de tudo o que percebido. O que faz a diferença é comentar a notícia, agregar uma real opinião e não apenas um simples comentário do tipo "gostei/não gostei", "concordo/não concordo". Muitas vezes é necessário "traduzí-la" para simplificá-la, para torná-la acessível ao suposto leitor médio-comum.

Em vista disto, o jornalismo científico teria então uma responsabilidade ainda maior, ou mais complexa. Em se tratando de ciência, e levando em conta as dificuldades inerentes do processo de transformar importantes conceitos e descobertas científicos em matérias palatáveis ao leigo [isto é, cada um de nós], a mera reprodução de matérias pré-prontas emitidas pelas fontes científicas, ainda que altamente confiáveis, seria um crime. Pois se estaria colocando a responsabilidade da comunicação nas mãos dos próprios cientistas, que nem sempre são [ou quase nunca são] os mais entendidos nesta matéria.

E o que é vital destacar: os jornalistas, agindo como reprodutores de informação científica, estariam deixando escapar das mãos a valiosa oportunidade de, eles próprios, realizarem a mediação entre leigos & cientistas. Uma vez que a ciência visa, em última instância, sair de seus feudos acadêmicos e alcançar a própria sociedade, os veículos de comunicação social têm uma importância fundamental nesse processo de mediação.

O que, afinal, falta ao jornalismo científico? Jornalistas que se interessem mais por ciência? Jornalistas que se dediquem mais ao estudo e acompanhamento das constantes inovações científicas?

Não sei realmente o que falta, mas fico espantada ao ver uma oportunidade tão rica quanto esta ser desperdiçada. É por este e outros motivos que este blog, humildemente, tem o intuito de também falar de ciência.