Encyclopaedia Show do Milhão
Quando li, mal contive a surpresa. É assim que, aos poucos e a passos largos, vemos a mídia "construindo" nosso "conhecimento".
Na melhor das hipóteses, encontramos uma alternativa à "clássica" coleção Barsa (Encyclopaedia Britannica), ou similares. Ou uma versão, vamos dizer, "revista e ampliada" do jogo igualmente clássico de perguntas & respostas "Master" (da Grow), baseado em tabuleiro & cartões, que tanto entreteu a geração de jovens dos anos 80 do século passado.
Sinal dos novos tempos. Nada contra a alternativas de acesso ao conhecimento, tampouco à idéia de "digitalizá-lo" - o que remete à famigerada e tão pouco compreendida questão da Exclusão/Inclusão Digital. Mas penso, aqui, não exatamente naqueles que não têm acesso (ainda) a computadores e/ou outros dispositivos (móveis ou não) de comunicação telemática.
Penso naqueles que podem vir a se contentar com "volumes" de informação pronta e digerida, informação "fast-food" e enganadoramente "user-friendly"... Aliás, informação re-digerida sabe-se lá quantas vezes... parece até comida de passarinho! ;-)
Onde estão os formadores de opinião "off-media"? O que estão fazendo para ampliar o acesso ao conhecimento contemporâneo, além de criticar "o neoliberalismo maçante que trata a informação como mercadoria", enquanto lêem matérias como esta? É difícil ficar parado sem pensar em soluções, eu diria até impossível, pra quem tem um mínimo de sensibilidade sócio-cultural.
Onde estão os igualmente famigerados "produtores de conteúdo"? Até quando se pensará que "produzir conteúdo" é enlatar volumes de informação já digeridos, reformatando-os para novos dispositivos, novos suportes de comunicação? Aliás, o termo "conteúdo" perdeu tanto o seu valor, que muita gente fala dele sem saber do que está dizendo.
Hoje em dia, conteúdo virou qualquer coisa, qualquer tipo de texto, preferivelmente aquele ilustrado por imagens e embalado por sons eletrônicos. E botando tudo isso junto num CD-ROM ou site na internet, então, feito um liqüidificador eletrônico, tem gente que acha lindo... Aliás, hoje em dia, é difícil tocar em questões cruciais sem se usar aspas, de tanto que se perdeu o sentido original de termos culturais importantes como: conteúdo, informação, conhecimento, formador de opinião, etc.
Na verdade, Sílvio Santos não tem culpa se outros possíveis formadores de opinião se omitem em situações de emergência cultural.
A propósito, aqui vai a matéria, na íntegra:
"Fãs do programa "Show do Milhão" poderão aprimorar seus conhecimentos gerais com a enciclopédia que o SBT está lançando em parceria com a Klick Editora.
De acordo com a assessoria de imprensa da emissora, a Enciclopédia Show do Milhão tem 14 volumes ao estilo da tradicional enciclopédia Barsa, contendo notícias recentes como a recente vitória do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva.
A versão eletrônica da Enciclopédia Show do Milhão é composta de três CD-ROMs."
FONTE: UOL, Diversão & Arte, 29/11/2002 - 14h12
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