blog [FRACTOSCÓPIO] Rosy Feros

27 de setembro de 2002

Poemas aos Homens do nosso Tempo



[Hilda Hilst]


Enquanto faço o verso, tu decerto vives.
Trabalhas tua riqueza, e eu trabalho o sangue.
Dirás que sangue é o não teres teu ouro
E o poeta te diz: compra o teu tempo.

Contempla o teu viver que corre, escuta
O teu ouro de dentro. É outro o amarelo que te falo.
Enquanto faço o verso, tu que não me lês
Sorris, se do meu verso ardente alguém te fala.
O ser poeta te sabe a ornamento, desconversas:
"Meu precioso tempo não pode ser perdido com os poetas".
Irmão do meu momento: quando eu morrer
Uma coisa infinita também morre. É difícil dizê-lo:
MORRE O AMOR DE UM POETA.
E isso é tanto, que o teu ouro não compra,
E tão raro, que o mínimo pedaço, de tão vasto

Não cabe no meu canto.

(Júbilo Memória Noviciado da Paixão(1974) - Poemas aos Homens do nosso Tempo - XVI)



[Hilda Hilst]


E, para completar esta pérola (dentre outras) encontradas no site oficial de Hilda, sugiro a leitura deste texto, "Sinto-me livre para fracassar", in loco.

Aliás, maravilhosa essa dobradinha poética Hilda + Affonso.